Nos últimos dias, após uma pergunta capciosa da Mariana Fioravanti (Polimerase de Mesa) sobre como se motivar ou ter ideias para escrever em seu blog sobre ciência, começou uma discussão entre vários blogueiros de ciência sobre a queda na produção de textos e surgimento de novos blogs. Destaco o Carlos Hotta, Roberto Takata e Rubens Pazza que escreveram em seus respectivos blogs sobre o assunto e levantaram diferentes pontos de vista. Eu como um dos blogueiros/podcaster da nova geração resolvi entrar na discussão com os dois pés ao mesmo tempo.
Resumindo muito a discussão, vou usar duas perguntas que o Carlos Hotta escreveu em seu blog (link do blog no final da postagem):
(1) Por que não estamos blogando?
(2) Por que vocês não estão abrindo novos blogs?
A principal resposta para a primeira pergunta foi a falta de tempo dos blogueiros. A grande maioria das pessoas que escrevem sobre ciência são estudantes de áreas relacionadas, graduandos e pós-graduandos, e como todos sabem, estudar toma muito tempo. Com isso o tempo destinado para escrever um blog, que não é uma prioridade, é ocupado por outras atividades mais urgentes como escrever a monografia, fazer um experimento, entre outras coisas. Realmente, tempo é um grande problema, mas temos que nos organizar, tendo uma boa organização e respeitando os horários estipulados para cada coisa dá e sobra tempo para escrever um post para seu blog. Em relação a organização recomendo os ótimos textos do Cientista S/A, as dicas são muito boas e já coloquei várias em prática.
Para segunda pergunta surge um monstro, um não, dois. Facebook e Youtube. Nem preciso explicar como eles funcionam. Na minha opinião temos que nos ater ao tipo de informação. Um texto em um blog exige alguns minutos de concentração para absorver a informação, já no Facebook e no Youtube, são alguns segundos ou minutos que não exigem quase nada de concentração. A informação é muito mais descartável e superficial. Os outros blogs que citei anteriormente fizeram uma boa discussão sobre isso.
Finalizando esse texto, quero levantar mais uma questão que vem me incomodando a algum tempo e a considero relevante para divulgação científica. É um fato mais do que concreto que as pessoas têm interesse por ciências e que todos necessitam dela no dia-a-dia. Elas querem consumir conteúdos de ciência, mas na falta deles acabam consumindo um produto péssimo, as pseudociências. Por quê? Porque nós cientistas somos chatos. Nossos textos são uma enxurrada de conceitos e termos técnicos que espantam uma pessoa menos interessada. Temos que aprender como vender nosso produto, ele é bom e tem demanda.
Não estou desmerecendo as pessoas que já escrevem e tentam divulgar a ciência de alguma forma, esse esforço já é muito louvável, mas temos que procurar nos aperfeiçoar e excluir competitivamente esses demônios que nos assombram.
Outros textos sobre a discussão:
Brontossauros em Meu Jardim (Carlos Hotta) – Cadê os blogs brasileiros sobre Ciência?
DNA Cético (Rubens Pazza) – Teias de aranha nos blogs de divulgação científica
Gene Reporter (Roberto Takata) – Há uma crise nos blogues brazucas de ciências?
O Roberto Takata está acompanhando melhor as discussões pelo Twitter e Facebook, ele está fazendo atualizações em seu blog, vale a pena acompanhar.
Luciano Queiroz é mestrando em Microbiologia pela Universidade de São Paulo e host do podcast Dragões de Garagem. Atualmente tentando fazer com que suas PCRs deem certo.
Não estou inteiramente de acordo com as análises que vem sendo realizadas. O fato de não estarmos mais notando a abertura de uma enxurrada de blogs é natural. As formas de comunicação em rede mudaram bastante. Além do mais, temos a tendência de notar apenas as movimentações em torno de nosso nicho. Se os blogs não são de pessoas conhecidas é como se não existissem. De fato, há blogs novos sendo criados o tempo todo. Ocorre que ou o conteúdo é de baixa qualidade ou as postagens não tem periodicidade e os envolvidos acabam deixando de lado. Atualmente, a iniciativa de Vlogs tem impactado bem mais que os Blogs. Devo mencionar que canais no Youtube nem sempre são de conteúdo duvidoso ou superficial. Um exemplo é o canal “Ciência no Cotidiano” mantido pelo Guilherme Tomishiyo, que faz um excelente trabalho de divulgação. A culpa não é dos blogueiros, a culpa é do nosso modelo educacional que nunca privilegiou a leitura. Abri meu blog há quase um ano e tenho recebido uma estatística de vistas que considero satisfatória para quem não faz muita propaganda. O facebook ou Tweeter não destruíram os blogs. O que não se pode é esperar os mesmos resultados nessas redes com dinâmicas completamente distintas. Particularmente, optei por não ter uma página do facebook para meu blog devido ao notório fato de que poucos leem o texto integral e comentam com base nas linhas iniciais da chamada de uma publicação. Esta sim são discussões sem profundidade e improdutivas. Precisamos é aprender a usar melhor as ferramentas disponíveis em nosso favor. Um dos maiores problemas a ser enfrentado é o preconceito por parte dos próprios cientistas com relação à divulgação científica. Nós não respeitamos o trabalho de divulgação. Como esperar que o público não especializado respeite? Recordo-me de uma conferência na USP sobre divulgação onde um dos editores da revista Ciência Hoje mencionou: “O chefe do meu departamento é até tolerante com o meu trabalho de divulgação!” O sentido é claro – divulgação não é uma área de prioridade, então porque diabos você pesquisador está perdendo seu tempo com isso? Há algum tempo o CNPq resolveu acrescentar entre as áreas de atuação a opção “Divulgação Científica.” É fácil fazer um diagnóstico da situação real. O exercício é simples, selecione pelo menos 20 pesquisadores e veja quantos deles menciona a divulgação científica como área de atuação. Os próprios assessores do CNPq não fazem ideia de como lidar com isso. Para eles, se você diz que sua área de atuação é a divulgação científica é porque você faz algum estudo sobre quantas pessoas fazem divulgação ou algo do tipo. Ninguém lida para o fato de você FAZER divulgação. A conclusão a que chego é que nunca houve crise nalgo que parece nunca ter existido (claro que isso é uma metáfora e não desejo aqui desmerecer o trabalho de divulgação que muita gente disposta tem empreendido).
Concordo em grande parte.
Também percebo uma falta de concentração nas pessoas, e não é apenas em blogs e livros… Há pessoas que nem mais em mesa de bar discutem coisas saudáveis (ficam no seu celular)! Imagina discutir em um fórum ou blog…
E também a linguagem da maioria dos blogs é falha…
são massantes e chatas, imitando portais educacionais só que muito mais resumido às vezes.
Outra coisa que percebo de errado é que nas pesquisas do Google e cia, sites de portais educacionais prevalecem como fonte científica, salvo o Wikipedia e HowStuffWorks. Estes portais educacionais não trazem novidades científicas, linguagem interessante (escrita ou imagens), nem buscam dialogar com os leitores. Mas infelizmente são a ponta da divulgação da ciência, já que possuem equipes, são antigos e possuem links patrocinados, etc.
Alison Chaves, por sua vez, completou bastante o pensamento.
O Vlog pode ser bem usado e demanda de tanto trabalho quanto um blog (ou mais) e é uma linguagem mais compatível com a nossa educação (e mesmo forma de ser, já que somos bastante visuais).
Mas cada linguagem tem sua vantagem. O Vlog é bom parar passar conteúdos pontuais, como “aula”, mais animada ou uma reflexão mais pontual (se o vlogger tiver carisma), experiências e aumenta o contato do leitor com o vloggeiro. O blog imagino que é bom para reflexões sobre assuntos mais delicados, divulgação de coisas novas (como tradução de artigos) e “aula” de curiosidades (como hHowStuffWorks). Mas a escrita sempre será uma linguagem mais fria.
É igual dirigir, usando uma comparação louca e exagerada… você dá a seta, ninguém respeita, quando coloca a mão, todo mundo respeita. Ver o rosto da pessoa, ouvir sua voz e ver que é humano, atrai atenção.
Concordo que os Vlogs e o Facebook não são vilões na história. Eles (principalmente o FB) estão em uma camada mais superficial da divulgação científica, sem tanto “tempo” para explicações mais detalhadas, e sem indexação. Entretanto, profundidade não é sinônimo de acuidade.
O I Fucking Love Science da Elise Andrews é um exemplo de pouca profundidade e alta precisão científica. Ela ainda cita os links para quem quiser se informar melhor para o assunto.
Acho que se os blogueiros atuais usassem essas ferramentas modernas complementando os blogs, seria uma maneira de manter o fluxo de leitores a todo vapor.
PS: o Tomishyio já está há uns meses sem gravar, não? Acho que tenho que me inscrever de novo no canal dele com minha nova conta.
Concordo com o thomas, esses portais são estagnados e muitas vezes com informações falhas.
Concordo com o lucas, mas ultimamente o facebook já não é mais uma ferramenta tão boa assim para divulgação de qualquer coisa, o alcance das publicações vem caindo a cada dia.
Concordo com o Lucas – profundidade não é sinônimo de acuidade. Levantei esse ponto discutindo na thread do #blogciencia no Twitter semana passada. Mas ainda tenho dúvidas sobre o que significa um termo e outro para os blogueiros. Será que é possível fazer divulgação em profundidade sem ser sisudo – e ainda assim manter a acuidade e a precisão? Como não cair na armadilha de fazer DC como se a função dela fosse ser relações públicas da ciência (e manter uma postura crítica em relação à ciência)? Como pesquisadora da DC na web, essas perguntas ficam dançando na minha cabeça. É muito bom ter com quem compartilhá-las. 🙂